O Mendel mítico sob um olhar crítico
o papel de Mendel na história da Genética
DOI:
https://doi.org/10.55838/1980-3540.ge.2016.252Palavras-chave:
Mendel, história da genética, geneResumo
É praticamente universal a descrição de Mendel como responsável pela formulação das leis que recebem seu nome, numa forma que menciona genes situados nos cromossomos – que ele teria chamado de ‘fatores’ – e sua distribuição pelas células-filhas nas divisões meióticas. É bastante comum, além disso, uma imagem de Mendel como um monge supostamente isolado num mosteiro em Brünn (atualmente, Brno), ignorado pela comunidade científi ca de sua época e posteriormente vingado pelo seu papel fundador na história da Genética. Estes são elementos do que podemos denominar o Mendel mítico, presente tanto na ciência escolar quanto na literatura científica. Contudo, esta é uma descrição incorreta do papel de Mendel na história da Genética. Ela está comprometida por erros metodológicos importantes em termos historiográficos, por ser anacrônica, atribuindo a Mendel ideias posteriores ao seu trabalho, e por ignorar o contexto em que ele realmente trabalhou. Quanto a este último problema, Mendel não era, de um lado, um monge isolado e ignorado, mas, de outro, não era parte da comunidade científi ca que se dedicava ao problema da herança na segunda metade do século XIX. Assim, outro problema decorre da ênfase apenas sobre o papel de Mendel nos estudos da herança que teriam levado à emergência da Genética na virada para o século XX: ignoram-se as contribuições de cientistas muito importantes, como Darwin, Spencer, Galton, Nägeli, Brooks, Weismann e de Vries. Foi o trabalho desses cientistas que propiciou o caminho para o surgimento da Genética e foi no novo contexto estabelecido por essa disciplina que o trabalho de Mendel foi reinterpretado a partir de 1900. O Mendel mítico decorre, em parte, de uma confusão entre o conteúdo de seu trabalho original, publicado em 1866, e o conteúdo dessa reinterpretação. Nesse texto, abordaremos alguns aspectos do Mendel mítico, como base para uma discussão de qual foi, afinal, seu papel na história da Genética.
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